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Concluída a auditoria à segurança e vigilância das 49 prisões do país

Inspeção-geral dos Serviços de Justiça aponta deficiências nas infraestruturas, na organização e na gestão dos recursos humanos.
31 dez 2024, 11:11
O Relatório foi entregue à Ministra da Justiça a 27 de dezembro. © Emerson Coutinho | StopMotion
O Relatório foi entregue à Ministra da Justiça a 27 de dezembro. © Emerson Coutinho | StopMotion

Na sequência da evasão de cinco detidos do Estabelecimento Prisional (EP) de Vale de Judeus, a 7 de setembro de 2024, a Ministra da Justiça solicitou à Inspeção-geral dos Serviços de Justiça (IGSJ) a realização de uma auditoria aos “sistemas de segurança e vigilância” de todos os 49 Estabelecimentos Prisionais do país, a ser concluída até 31 de dezembro de 2024.

A IGSJ deu início imediato aos trabalhos e:

  • Reuniu com os Serviços Centrais da DGRSP, incluindo a Direção de Serviços de Segurança
  • Fez a primeira visita a um Estabelecimento Prisional a 26 de setembro de 2024
  • Prosseguiu um plano de inspeções, contemplando visitas presenciais a todos os EP no Continente, Açores e Madeira.

O Relatório final foi entregue à Ministra da Justiça a 27 de dezembro de 2024 e dele fazem parte 49 relatórios de auditoria sobre cada um dos EP.

A IGSJ detetou deficiências de diferentes naturezas. Salvaguardando as reservas que as questões de segurança impõem, são suscetíveis de divulgação pública as que de seguida se enunciam, de forma não exaustiva:

Equipamentos e infraestruturas

  • Sistema de Informação Prisional com alguns módulos a carecer de atualização;
  • Necessidade de avaliar a lotação dos EP;
  • Viaturas celulares e de serviços gerais antigas (de 1998 e 2000) e degradadas;
  • Ausência de uniformização de configuração das câmaras de CCTV;
  • Instalações a necessitar de obras e de outras intervenções;
  • Falta de sistema que impeça o arremesso de objetos nalguns EP;
  • Torres não operacionais nalguns EP;
  • Locais desadequados para visitas;


Organização

  • Dificuldades na alocação dos reclusos a cada um dos EP e na distribuição por alas/celas/camaratas;
  • Dificuldades na transferência de reclusos entre EP;
  • Pouca articulação na informação entre EP e entre DGRSP e EP;
  • Grande concentração de saídas nos mesmos dias (para consultas/exames ou diligências judiciais);
  • Permanência de reclusos preventivos em EP concebidos para reclusos condenados;


Gestão de recursos humanos

  • Escassez de guardas prisionais ao serviço, motivada também por ausências prolongadas, com grande incidência de alegação de acidentes em serviço, de doenças profissionais e de baixas médicas;
  • Faixa etária avançada dos guardas prisionais;
  • Ausência de formação dos guardas prisionais em temas específicos;
  • Insuficiência de elementos encarregados da videovigilância;
  • Acumulação de funções dos elementos encarregados da videovigilância, nalguns casos;
  • Subocupação do Regime Aberto para o Interior (RAI), não se assegurando a total a ocupação; dos tempos de quem está nesse regime;


Decisões políticas

Em face do Relatório agora recebido, a Ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, e a Secretária de Estado Adjunta e da Justiça, Maria Clara Figueiredo, decidiram:

  • Pedir à Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) que:
    1. Proceda à classificação, por grau de prioridade, das falhas cuja reparação se revela mais urgente e/ou necessária;
    2. Calendarize as medidas destinadas a suprir as falhas;
    3. Apresente um relatório de execução até 31 de março de 2025 e outro até 30 de junho de 2025.
  • Ordenar nova inspeção, a realizar pela IGSJ, no último trimestre de 2025, com entrega do relatório final até 31 de dezembro de 2025.

Para a Ministra da Justiça “esta auditoria – inédita porque abrange os 49 EP - confirma o estado de desinvestimento no sistema prisional ao longo dos anos. Também nos permite ter uma visão completa e transversal do sistema prisional e tomar as melhores decisões de gestão e de investimento nas prisões. Várias decisões já foram tomadas, como a compra de viaturas, de equipamento de vigilância eletrónica e a contratação de 225 guardas prisionais, em curso. Estamos a dar início a obras e intervenções urgentes: nos EP de Lisboa e de Ponta Delgada. Os trabalhos de requalificação das prisões e do sistema prisional são longos e demorados. Por isso, estamos a começar já.”

Rita Alarcão Júdice lembra que “hoje mesmo foi publicado em Diário da República o Decreto-Lei que revê o modelo de avaliação de desempenho do Corpo da Guarda Prisional. Era uma aspiração antiga, de valorização da carreira dos guardas prisionais, que o Governo acolheu, esperando, em troca, empenho, profissionalismo e rigor.”

Ministério da Justiça