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Nesta ópera a voz é mais uma vez dos jovens reclusos

Segunda edição do Projeto Ópera na Prisão apresenta "Só Zerlina, ou Cosi Fan Tutte?", 12 e 13 de julho no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian.
12 jul 2018, 13:07
Opera na Prisão, no Grande Auditório da Gulbenkian, dias 12 e 13 de julho
Opera na Prisão, no Grande Auditório da Gulbenkian, dias 12 e 13 de julho

Tem que chegar, tem que chegar, a liberdade para nós, tem que chegar”, esta é a letra do refrão de uma das composições de rap criadas pelos reclusos do Estabelecimento Prisional de Leiria (Jovens) (EPLJ) para a ópera que construíram no âmbito da terceira edição do projeto “Ópera na Prisão”. “O rap é o nosso maior contributo” explicou-nos Mathieu, um dos solistas que deu uma nova vida à serenata e à moral da ópera clássica de Mozart, Così Fan Tutte, através da incorporação de versos de rap. O programa PARTIS (Práticas Artísticas Para Inclusão Social) da Fundação Calouste Gulbenkian tem como objetivo apoiar, através de subsídios e de ações de capacitação, organizações que usam práticas artísticas ao serviço da inclusão social. Após apresentar Don Giovanni nas comemorações dos 60 anos da Gulbenkian em junho de 2016, o projeto “Ópera na prisão” apresentará nesta segunda edição Só Zerlina, ou Cosi Fan Tutte?,  hoje (12/07)  e amanhã (13/07)  às 19 horas, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian.

A orquestra da Gulbenkian, 5 cantores profissionais, 19 jovens reclusos com idades entre os 16 e 25 anos, um grupo de familiares dos reclusos, um coro de 10 funcionários da DGRSP e uma equipa de produção sobem ao palco para provar, mais uma vez, que a música e a representação podem inquestionavelmente ser instrumentos poderosos de inclusão e reintegração social.

Este projeto é uma iniciativa que nasceu na Sociedade Artística e Musical dos Pousos (SAMP) em parceria com a DGRSP e o EPLJ, a Câmara Municipal de Leiria, a Fundação Caixa Agrícola e a Escola de Dança Clara Leão e com apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e do Plano Portugal Inovação Social. 

Esta edição, denominada Pavilhão Mozart, é vista como uma segunda fase do projeto “Ópera na Prisão”, já que busca ir para além da criação artística de uma ópera incentivando os reclusos a investir na criação de uma estrutura duradoura.  O objetivo do projeto é criar um centro artístico comunitário permanente que perdure mesmo depois do final do apoio dos 36 meses do programa PARTIS, através da recuperação de um dos pavilhões do terreno do EPLJ. Este espaço, que será dinamizado e gerido pelos próprios reclusos, está pensado para vir a ser um centro cultural para a região de Leiria pronto para acolher todas as iniciativas de companhias e entidades do domínio das artes e da reintegração social dispostas a desenvolver projetos artísticos com os jovens reclusos e com todos aqueles que desejarem participar.  No futuro, está previsto que os jovens venham a conhecer outras áreas das artes performativas. Após mais de dois anos de colaboração com a SAMP, serão a Escola de Dança Clara Leal e outra entidade que ainda está por definir que tomarão as rédeas deste novo espaço de criação permanente. Espera-se que as obras do pavilhão, que estão prestes a começar, tenham uma duração de cerca de 3 meses.

Carla Pragosa, Diretora Adjunta do EPLJ, explica-nos que para além da maior ambição do projeto, também o grupo de reclusos é diferente, já que este grupo era “mais irreverente e potente do que o primeiro, foi mais difícil fazê-los cumprir horários”, naquilo que é um projeto “muito exigente”. No entanto, no grupo final, que é composto por 27 jovens reclusos (foram 25 em 2016), um número significativo já tinha uma experiência musical nomeadamente enquanto rappers. Nem todos puderam vir a Lisboa para o espetáculo: “os que vieram são os mais cumpridores, foram avisados que seriam impedidos de vir se cometessem infrações graves nos 6 meses antes do espetáculo”. Aos jovens reclusos juntou-se neste desafio um grupo de apoio alargado composto por guardas prisionais, familiares e amigos, em que cerca de 30 participaram ativamente no projeto, um número que cresceu em comparação com a primeira edição. Segundo a Directora Adjunta, este apoio é fundamental “pois são as pessoas que os vão receber no futuro” e nota-se que as “famílias estão felizes pelos jovens terem acesso a oportunidades como esta.”

Comum às duas participações é a inegável mudança de atitude que este projeto provoca nestes jovens “altamente criativos, com uma capacidade de resistência ao sofrimento extraordinário” como descreve o diretor artístico Paulo Lameiro. Para Carla Pragosa, não há dúvidas que os jovens saem deste projeto mais preparados para enfrentar os seus futuros já que os ajuda a “colmatar lacunas do passado” por ser “um projeto muito consistente e bem organizado, que complementa a nossa intervenção a nível educativo, ao consolidar determinadas competências” como o autocontrolo, a capacidade de resiliência e o sentido de responsabilidade. O produto final, é Só Zerlina, ou Cosi Fan Tutte?, uma interpretação da obra de Wolfgang Amadeus Mozart alimentada pelas vivências comunitárias de cada um destes jovens que descobriram um fascínio pelo palco e que são capazes de cantar e interpretar o velho sábio Don Alfonso e nos “pôr todos juntos de coração aberto” conclui Paulo Lameiro.

Ministério da Justiça