Desafios da saúde nas prisões debatidos no Porto
Profissionais de saúde, administradores prisionais, especialistas e outras partes interessadas reuniram no Porto para uma reflexão aprofundada sobre os desafios específicos dos cuidados de saúde em contexto prisional.
Grades de prisão
Depois do debate em redor dos grandes desafios da saúde prisional e os caminhos a seguir para integrar a saúde prisional na saúde pública, profissionais de saúde, administradores prisionais, especialistas e outras partes interessadas estiveram reunidos na segunda sessão de apresentação do relatório “O Estado da Saúde nas Prisões para a Região Europeia”, da OMS, que decorreu esta quinta-feira, no Porto, destinada a refletir sobre os desafios específicos dos cuidados de saúde nas prisões, nomeadamente doenças infeciosas, violência, automutilação e envelhecimento da população.
Na sua intervenção, o Secretário de Estado Adjunto e da Justiça destacou a “estreita colaboração” com o Ministério da Saúde para melhorar os cuidados de saúde nos estabelecimentos prisionais, com iniciativas como o mecanismo de encaminhamento das infecções por HIV e hepatites na população prisional às unidades do Serviço Nacional de Saúde e a gestão da pandemia de COVID-19, “cuja principal preocupação foi salvar vidas e proteger as pessoas mais vulneráveis”.
Jorge Alves Costa mencionou ainda a disponibilização de “balcões de saúde” em todos os estabelecimentos prisionais e centros de detenção juvenil de Portugal Continental, uma plataforma que permite aos reclusos aceder a teleconsultas com qualquer unidade do Serviço Nacional de Saúde.
Atualmente, as áreas governativas da Justiça e da Saúde estão a trabalhar para integrar os registos médicos prisionais com os registos do NHS, o que permitirá que o pessoal médico, tanto nas prisões como nos cuidados de saúde externos, tenha acesso às informações completas de saúde dos pacientes.
A cooperação com o Ministério da Saúde estende-se às pessoas não responsáveis criminalmente por problemas de saúde mental, que se encontrem a cumprir medida de segurança imposta judicialmente em estabelecimento de saúde mental, como apontou o Secretário de Estado Adjunto e da Justiça. A política portuguesa é dar preferência ao cumprimento dessas medidas em unidades forenses do Serviço Nacional de Saúde, mantendo nas unidades psiquiátricas do serviço prisional apenas as pessoas que requeiram maior segurança, explicou o governante.
Para dar cumprimento a esta política, têm sido desenvolvidos esforços significativos no sentido de alargar a capacidade das unidades forenses do Serviço Nacional de Saúde, permitindo a transferência progressiva de doentes anteriormente confinados em estabelecimentos psiquiátricos do sistema prisional. Mais: o Plano de Recuperação e Resiliência inclui um investimento muito relevante na renovação e capacitação das unidades forenses.
Além do nível estritamente médico, estão a ser realizadas ações para melhorar a saúde mental em ambiente prisional. Um exemplo disso mesmo foi dado com a recente alteração do regulamento prisional para permitir a instalação de telefones fixos em todas as celas, exceto nas unidades de segurança máxima. “Experiências-piloto indicam que esta medida pode diminuir os níveis de stress e aproximar os reclusos dos seus entes queridos, com claros ganhos para o seu bem-estar”.
A recente adoção de um Manual com novos procedimentos destinados a garantir a segurança e o bem-estar das pessoas trans no sistema prisional, e a preparação, em curso, de um plano plurianual de investimentos para melhorar as condições de detenção, foram igualmente medidas mencionadas.
Jorge Alves Costa destacou ainda a recente criação de um grupo de trabalho encarregado de estabelecer um novo Plano de Ação para a Saúde nas Prisões para o período 2023-2030, entre os Ministérios da Justiça, Saúde e Ciência, tecnologia e Ensino Superior.